15/01/11

IIº Domingo Comum - A

Terminaram as festas natalícias e entramos, na liturgia, no chamado tempo comum. Entramos no tempo litúrgico em que não celebramos nenhuma festividade mais forte ou central mas celebramos a própria vida que avança serenamente com Deus e para Deus.


Neste domingo, mesmo que já não seja tempo de Natal, mantêm-se as personagens familiares do tempo de Natal: João Baptista e Jesus. No Evangelho aparece um dos primeiros reconhecimentos públicos de Jesus: João Baptista assinala e revela Jesus como sendo “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo”. Esta expressão é-nos familiar porque a repetimos todas as celebrações eucarísticas antes da comunhão e também no gloria proclamamos Jesus Cristo como “Senhor, Filho único, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai!”

João apresenta Jesus como o Cordeiro de Deus. Aquele que se entrega para redimir os pecados. João Baptista apresenta Jesus em público para que não restem duvidas que aquele é o enviado, o esperado… Jesus é aquele em quem se cumprem todas as promessas da escritura.

A missão de João Baptista está terminada ao apontar para aquele a quem ele tinha preparado o caminho… Coloca em cena o Enviado de Deus e agora só depende das pessoas escutar, conhecer, amar e seguir o único que tem palavras de vida eterna.

Precisamos de sentir que Jesus é este cordeiro de Deus… este enviado por Deus para nos levar a Deus. Também nós teremos de alguma forma com a nossa vida apontar para Jesus. Torna-Lo vivo e actuante no bem que fazemos. Teremos de encontra-lo pessoalmente e apresentá-Lo como o mais importante da nossa vida a todos com que nos cruzamos!

Precisamos de Jesus porque a humanidade geme e sofre com tantas coisas erradas e mal entendidos entre pessoas e povos. Precisamos de Jesus porque precisamos de sentirmos amados e protegidos por Deus.

Precisamos de Jesus porque a vida que inventámos não nos satisfaz, porque muitos não têm o suficiente e a solidão e a falta de comunicação sincera nos invadem e precisamos da força do Espírito Santo para continuar a caminhar e a confiar!

Tu que tiras o pecado do mundo, livra-nos da pressa, de passar pelas coisas, pelas situações, pelas pessoas sem as usufruir, sem nos encontrarmos com os outros.

Livra-nos Senhor, da rotina que nos faz repetir sem sentir, de um coração que não se comove nem move ante a dor dos outros.

Tu que tiras o pecado do mundo, envolve com o Teu amor e a Tua frescura os políticos que conduzem os destinos dos povos, os artistas que alimentam os nossos modos de pensar, os crentes que, com as muitas normas, se afastam do Teu amor.

Enche com a força do teu espírito os professores para que ensinem conhecimentos com alma, os investigadores sirvam menos a economia e se preocupem mais com as pessoas.

Que Jesus, cordeiro de Deus enviado para redimir e salvar, auxilie os pais para que não gastem toda a energia na sua realização profissional e consigam dar conta que o mais importante é o amor que se consegue transmitir em gestos concretos.

Que Jesus Cristo, o enviado de Deus, ajude todos os seres humanos a vencerem a solidão e o desencanto e consigam ser capazes de viver com prazer, alegria e sincera comunicação com todos com quem se cruzam no dia a dia.

23/12/10

Partilha de Natal 2010

Leitor 1 – Que bom é Natal! Finalmente chega o tempo de comer muitas coisas boas…Vamos esquecer por um bocado a crise! Vamos partilhar montanhas de prendas… Quero as minhas prendas! Quero muitas prendas neste Natal!
Padre António: E o aniversariante a que prendas tem direito? Sim… Jesus… aquele que hoje comemora o seu aniversário? A que prendas tem direito da nossa parte? Que falta de educação da nossa parte querer celebrar o aniversário de alguém e não levar sequer uma pequena recordação a quem cumpre o seu aniversário.

Leitor 2 – Mas que prendas quer este menino?

Padre António: Para Ele não quer nada… Ele sempre deu tudo… espera que sejamos capazes neste natal de nos presentearmos a nós próprios: Espera que sejamos capazes de dar aos nossos inimigos a prenda do perdão. Para os nossos oponentes sejamos capazes de dar tolerância. Para os amigos temos de dar como presente o nosso coração…Para quem connosco trabalha ou precisa dos nossos serviços temos de dar como presente o máximo de atenção. Para tudo dar sempre como presente a caridade. O Deus menino quer como presente o bom exemplo em todos os momentos e o respeito como base da relação entre todos os homens e povos.

Leitor 3: Isso até é bonito de dizer… mas não passa de poesia! Coisas bonitas que se dizem sempre nesta altura de Natal. Que presentes reais espera o menino receber neste Natal? Que presentes serão fundamentais para que este Natal de 2010 seja verdadeiro?

Pe. António: Neste Natal acho que todos deveríamos dar uns aos outros alguns presentes fundamentais: Todos precisamos talvez de uma borracha para apagar as más lembranças e os erros que cometemos no passado. Precisamos de uma tesoura para cortar o que nos impede de crescer… precisamos de lentes de contacto para conseguirmos ver melhor o próximo e a natureza com amor…

Acho que neste Natal precisamos de umas agulhas bem grandes para tecermos os nossos sonhos e ilusões e refaze-los as vezes que forem necessárias! Penso que precisamos como presente um fecho que abra a nossa mente e o nosso coração para procurar as respostas mais importantes… e precisamos de um outro fecho para fechar a boca, os olhos e o coração a tudo aquilo que nos afasta de Deus e dos irmãos.

Neste Natal todos precisamos de um relógio novo que nos diga que todas as horas são a hora ideal para amar. Também acho importante neste natal um rebobinador de filmes para recordarmos sempre todos os momentos felizes que Deus nos concede constantemente. Precisamos também receber uns sapatos da moral e da ética para pisarmos com firmeza e segurança nos caminhos que seguimos!

Leitor 1: Tantos presentes assim? Não será melhor pedir só um?

Pe. António: Só um??? Então talvez seja melhor pedirmos todos ao Deus menino neste Natal um espelho… Para darmos conta de uma vez por todas que somos filhos de Deus. Que somos irmãos!

Precisamos de um espelho para darmos conta que somos maravilhosos… somos belos porque somos imagem de Deus!

Leitor 2: - Como se diz por aí… deveria ser Natal todos os dias para partilharmos uns com os outros essas prendas todas! Mas parece à nossa realidade como que falta sempre alguma coisa!

Pe. António: Sem dúvida que à nossa realidade falta sempre alguma coisa! Às vezes à espera do ideal não fazemos o possível. Á nossa realidade como que falta o açúcar..

Este menino que nasce no presépio há de ser o açúcar que dá sabor e sentido a tudo o que acontece!

No Natal conseguimos ver o mundo num foco mais nítido. Facilmente vemos que o amor é a força que mais poder tem e a solidariedade haveria de ser capaz de resolver todos os problemas!

Leitor 3: Seria assim tão difícil estarmos atentos o ano inteiro? Todos os dias de nossas vidas, nós devemos amar-nos uns aos outros, respeitar-nos uns aos outros, sermos solidários. O mundo não funciona somente no Natal, as crianças não necessitam de carinho, apenas no Natal, os necessitados, não passam fome, não sentem frio apenas no Natal. Eu quero olhar o Mundo e poder ver isso todos os dias.

Leitor 2: Se Deus me concedesse um desejo, desejaria que nascesse um Jesus Cristo todos os dias. Que todos os dias celebrássemos sinceramente o Natal para que estes sentimentos fossem reais todos os dias!

TODOS: Bendita seja esta data que une todo mundo numa conspiração de amor. Bendita seja esta data que une todo mundo numa conspiração de amor.

Pe. António: Estou à porta e chamo… É verdade. Estou à porta do teu coração, de dia e de noite. Mesmo que não escutes, mesmo que duvides que seja Eu. Eu, aqui estou, esperando o mais pequeno sinal que me permita entrar. Quero que saibas que cada vez que me convidas, eu venho sempre, sem falta. Venho em silêncio e de forma invisível, mas com um poder e um amor infinitos.

Não há nada na tua vida que não tenha importância para mim. Sei o que existe no teu coração, conheço a tua solidão e todas as tuas feridas, as tuas rejeições e humilhações.

Conheço, sobretudo, a tua necessidade de amor.

Tenho sede de ti. Tenho sede de amar-te e sede de que tu me ames. Vem a mim e encherei o teu coração, e sararei as tuas feridas.

Confia em mim. Pede-me todos os dias que entre e me encarregue da tua vida e eu o farei. A única coisa que te peço é que confies plenamente em mim. Eu farei o resto.

Tudo o que procuraste fora de mim só te deixou ainda mais vazio. Portanto, não te prendas às coisas deste mundo, mas, sobretudo, não te afastes de mim quando caíres.

Não importa o quanto tenhas andado sem rumo, não importa quantas vezes te esqueceste de mim, não importa quantas cruzes levas na tua vida. Há algo que quero que recordes sempre, e que nunca mudará: tenho sede de ti, tal como és. Não tens que mudar para acreditar no meu amor, a tua confiança nesse amor te fará mudar.

Esqueces-te de mim e, contudo, eu procuro-te em cada momento do dia e estou à porta do teu coração, a chamar por ti.

Toda a tua vida desejei o teu amor. Nunca deixei de o procurar e de desejar que tu me correspondas. Tu já experimentaste muitas coisas, no teu desejo de seres feliz. Porque é que não experimentas abrir-me o teu coração, agora mesmo, mais do que antes?

Quando finalmente abrires o teu coração e te aproximares o suficiente, então ouvir-me-ás dizer uma e outra vez: não importa o que és ou o que tenhas feito; amo-te por ti mesmo. Vem a mim com os teus problemas e necessidades, e com todo o teu desejo de ser amado. Estou à porta do teu coração e chamo-te… abre-me, porque tenho sede de ti…

07/12/10

Imaculada Conceição

Há palavras na língua portuguesa que dizem tudo… há palavras que não precisam ser explicadas para ser por todos bem entendidas. Há Palavras que pela sua densidade, pela sua força dizem tudo… Um exemplo claro de uma palavra deste tipo é a Palavra MÃE!

Esta Palavra “Mãe” é de certo das mais lindas que tem a nossa língua e de certo a todos mais coisas profundas diz.

Quando dizemos Mãe está tudo dito… Falamos do amor que lhe temos, da saudade que temos pela distância ou separação física… quando dizemos mãe falamos de disponibilidade de entrega total de amor no sentido mais profundo e puro…

Durante muitos anos, este dia 8 de Dezembro era o dia da Mãe… Depois por motivos comerciais e para que não houvesse no mesmo mês a comemoração do Natal e esta festa de homenagem às mães passou-se esta comemoração para o primeiro domingo de Maio.

A Igreja hoje celebra a festa desta Mãe celeste que todos temos e que honramos como Imaculada Conceição. Celebramos esta certeza de fé que a Mãe de Jesus foi concebida sem mácula do pecado original… Deus quis, em ordem aos méritos futuros de Nossa Senhora, conceder-lhe esta graça especial de ser preservada do Pecado Original.

Nossa Senhora é esta Mãe que sempre acompanha, que vive para Jesus e para que Jesus cumpra a sua missão. Maria é esta mãe que agora, sempre atenta, roga por nós, intercede por todos e cada um de nós a Jesus.

Esta festa de Nossa Senhora é a festa desta Mãe que une o Céu e a terra… é a festa dos homens e a festa de Deus porque Nossa Senhora é aquela que sendo humana sempre esteve bem próximo de Deus e agora estando junto de Deus para Deus quer atrair todos os humanos.

Celebrar a Festa da Imaculada Conceição é fazer festa na Igreja porque honramos a mãe de Jesus e a nossa mãe, honramos aquela que no seu seio uniu o céu e a terra quando acolhe Jesus e quer acolher nos a nós para nos conduzir a Jesus. Esta festa deveria ser a festa dos Jovens… Maria era muito jovem quando Deus lhe pediu esta missão tão importante de ser Mãe do Salvador. Maria deveria ser o grande modelo para os jovens… modelo de entrega e confiança em Deus, modelo de inocência e pureza de verdade permanente, modelo de humildade sincera.

Também esta festa da Imaculada deveria ser a grande festa que Portugal deveria ter e fazer. A Imaculada Conceição é a Padroeira da nossa Nação. (o rei D. João IV entregou a nossa Senhora a coroa e mais nenhum rei em Portugal a usou)

Infelizmente é uma padroeira desconhecida e esquecida. Portugal está preocupado com outras coisas que julga mais importantes mas que no fundo pouco importam quando comparadas com a verdade que a Imaculada testemunha. Que a Imaculada, nossa padroeira, abençoe a nossa nação e nos dê lideres sociais capazes de se esquecerem um pouco de si para verdadeiramente servirem o nosso país e as pessoas que aqui vivem.

Hoje com simplicidade deveríamos olhar para uma qualquer imagem de nossa Senhora e pensar apenas nesta palavra…. MÃE! E assim descobrir todo o amor que Nossa Senhora tem por todos nós. E todos procurássemos de alguma forma ser mais santos e puros como ela foi.

A festa da Imaculada Conceição é também um desafio para nós que precisamos constantemente de lutar pelo bem e fugir ou destruir o mal. Em Maria o Pecado das Origens é vencido porque dela nasce o Salvador. É o desafio da vida… amar o bem e largar o mal. O sentido profundo desta festividade é contemplar Maria como aquela que cumpre plenamente a sua vocação. Aquela que sempre confiou e amou sem reservas a vontade de Deus para ela. Quem quiser ser feliz… quem quiser como Maria alcançar a santidade terá de buscar o sítio onde Deus, em cada circunstância, o quer para realizar a sua vocação.

Este dia 8 de Dezembro, a meio da caminhada de Advento – a caminho da luz do presépio – é um convite à Esperança. Uma esperança que não engana… temos no Céu esta mãe que tendo sido preservada do pecado original sempre aguardou a vontade de Deus com alegria, confiança e esperança verdadeira.

Que a Imaculada Conceição abençoe todas as mães… as que vivem na terra e as que vivem no céu. Que abençoe os jovens para que como ela sejam generosos e encontrem o seu caminho na fidelidade à voz do coração e que ajude a nosso país que a tem como padroeira e de forma especial abençoe esta nossa Paróquia.

02/12/10

Campanha “Tampinhas” para a mão do Rodrigo

Ponto de recolha para a zona do Fundão:

Pe. António Carlos dos Santos Martins
Casa Paroquial de Capinha
Estrada Nacional 345 – 2
6230 – 145 Capinha



O Rodrigo tem dois anos e nasceu sem a mão direita.
Se conseguirmos juntar 18 toneladas de tampas (sim, são 18 toneladas!…) haverá dinheiro para financiar a mão que permitirá ao Rodrigo mais qualidade de vida.

Toda esta campanha é possível graças à empresa CEINOP, SA - Na Póvoa de Varzim, empresa essa que vai financiar a mão ao Rodrigo...

Aceitam-se todo o tipo de tampas plásticas até final de Janeiro de 2011: sumos, águas, detergentes, canetas, champôs, gel, lacas, asas de garrafão, bico do detergente da louça…

“... porque são pequenas gotas de água que fazem todo grande oceano!”

13/11/10

Para este XXXIII domingo Comum - C

As leituras propostas para este fim-de-semana utilizam uma linguagem apocalíptica… falam-nos do fim dos tempos. Apresentam-nos numa linguagem humana como será o momento final do universo… como será o dia em que este mundo passará de vez.
O Evangelho apresenta-nos uma imagem deste fim dos tempos como sendo um terramoto fortíssimo ou um furacão devastador.
São apenas imagens! O mais importante será descobrir a mensagem que estas imagens nos querem transmitir.
Não interessa muito querer saber quando acaba o mundo ou como acaba o mundo! Aos cristãos apenas importa dar conta e reconhecer que este mundo não é a última e única realidade que vamos conhecer. Fomos criados para a eternidade que não se confunde nem se esgota nesta realidade que conhecemos que apesar de bela é efémera e passageira.
Nesta realidade que vivemos e partilhamos acontecem-nos momentos em que “perdemos o controlo” das coisas e tudo vem por terra. Desmoronam-se os esquemas, as teorias e aquilo que parecia seguro e bem seguro desfaz-se como um castelo de cartas. E passamos mal. Procuramos alguém ou alguma coisa a que nos agarrarmos… quando morre alguém, quando nos despedimos de alguém… quando acontece alguma desgraça.
Que bom quando, em situações destas encontramos uma mão amiga que nos dá força ou nos diz uma palavra de paz, de confiança de orientação na desorientação.
É curioso que o anúncio da desintegração feito por Jesus acontece quando os discípulos estão a comentar a grandiosidade do templo. Jesus aproveita para dizer que por muito grande e consistente que pareça uma construção, tudo pode vir abaixo. Nada nos dá consistência à margem de Deus. Nada dura por parecer seguro. Deus, e só Ele é rocha e segurança para o crente.
Quem acredita e confia em Deus sofre com aquilo que acontece. Precisa como todos de ajuda nos momentos de calamidade… mas quem confia em Deus espera sempre encontrar esta esperança que só Deus pode dar. Se centrarmos em Deus a nossa atenção mesmo que o mundo desabe sentir-nos-emos abrigados à sombra do amor divinos.
Vivemos a esperar no Senhor… vivemos com o Senhor para vencermos todas as dificuldades e calamidades que possam surgir na nossa existência.
Tudo na vida se esvai
Morrem os familiares
E a dor abate-se sobre nós;
Quebram-se relações
E parece que o coração estala
Surge a doença
E desconjunta-se a vida
Temos um problema económico
E sentimos o medo e a insegurança;
Falha o trabalho ou chega a reforma
E a vida parece sem sentido;
Perdemos a coragem, aflige a depressão
E perdemos o gosto de viver;
Acontece-nos uma tragédia qualquer
E a vida se afunda…
A única coisa que é segura,
A rocha que não cede,
O tesouro mais valioso
És Tu, Senhor, nosso Deus.
Porque temos a segurança do Teu Amor,
Porque sabemos que acompanhas os nossos dias,
Porque nos esperas no fim do caminho
Porque chegaremos aos Teus braços
Para celebrar a festa da Vida
Para sentir o teu abraço definitivo
De plenitude, felicidade e harmonia
O abraço que sempre procurámos.
Então tudo o resto perderá a sua importância
E se tornará pequeno ao Teu lado, Deus da vida e de todas as coisas.


Neste domingo queria também convidar as pessoas a unirem as suas orações às minhas pelo aumento das vocações sacerdotais. Termina este domingo a semana de oração pelos seminários. Rezamos por todos aqueles que colocam a possibilidade ainda que remota de ser sacerdotes.

06/11/10

Carta de demissão - XXXII Comum C

Venho por este meio apresentar oficialmente o meu pedido de demissão da categoria dos adultos.
Resolvi que quero voltar a ter as mesmas ideias e possibilidades de uma criança de oito anos no máximo… quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim porque quero apenas ficar encantado com as pequenas maravilhas deste mundo que acontecem a todos os momentos, todos os dias.
Demito me de adulto porque quero uma vida simples e sem complicações desnecessárias. Cansei me de dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, noticias sempre deprimentes e alarmistas, contas a pagar, o disse que disse, doenças mas principalmente cansei me de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Chega de fazer contas para ver se o vencimento chega para todo o mês… quero acreditar que as pastilhas e as gomas são a melhor coisa do mundo e que as moedas de chocolate são melhores que as outras porque se podem comer e ficar com a cara toda lambuzada.
Também não quero dizer adeus às pessoas que me são queridas e que fazem parte da minha vida…. Por isso demito me de ser adulto! Porque quero ter a certeza que Deus está no céu e é Ele que orienta todas as coisas…
Quero deitar pedrinhas na água e dar a volta ao mundo no sonho de um barco de papel… demito-me de adulto porque quero continuar a sonhar.
Quero poder passar as tardes de verão, numa bela praia, construindo castelos na areia e, dividindo-os com os meus amigos.
Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro morango, a primeira maça ou, quando a cerejeira ficar totalmente florida.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de futebol ou uma corrida ao sprint.
Demito me de ser adulto porque quero voltar ao tempo em que eu aprendia o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda e rezava com os olhos fechados cheio de vontade de ser escutado.
Quero voltar ao tempo em que se era feliz, simplesmente porque se vivia na bendita ignorância de coisas que podiam preocupar ou aborrecer e que isso nada me incomodava porque agora mesmo que saiba muito nunca sei o mínimo suficiente.
Demito me de adulto porque quero poder acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, das palavras gentis e alegres… quero acreditar no poder da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos e da imaginação, dos castelos no ar e na areia.
Demito me de adulto porque ser “grande” é chato e eu quero ser feliz porque sei que ser feliz é mais que ter dinheiro ou ter muita influência…
Ser feliz é confiar em Deus… é saber que o Deus em quem acreditamos ”é um Deus de vivos e não um Deus de mortos… porque para Deus todos estão vivos!”
Para Deus todos estão vivos… criou-nos para a vida e não para a morte! Vivos na existência terrena ou vivos na eternidade na comunhão dos santos junto do mesmo Deus.
Acreditar em Deus é essencialmente uma questão de confiança e entrega… com simplicidade sabendo que Deus é sempre mais e sempre maior do que aquilo que conseguimos pensar ou teorizar.
Hoje as leituras pedem-nos esta confiança que é própria da simplicidade das crianças. Acreditar em Deus e naquilo que Ele revela em Jesus Cristo. E neste fim de semana as leituras falam-nos de forma especial da ressurreição…
Ressurreição não será portanto, reanimação ou simples ressuscitação ou reavivação e muito menos reencarnação como se alguém pudesse apropriar-se do lugar de alguém que já partiu.
Ressurreição Cristã é bem mais do que a simples imortalidade da alma porque a felicidade total que a ressurreição promete tem de incluir todas as dimensões da pessoa humana. Trata-se da plenitude de uma existência pessoal e inteiramente transfigurada pelo amor de Deus. Na ressurreição adquirimos a vida única e original de cada um, plenamente realizada e finalizada em Deus, quando Deus for tudo em todos!
A ressurreição não é uma teoria que se aceita. Implica um estilo de vida que se assume para a podermos alcançar. Como pedia o Papa Bento XVI na recente visita a Portugal: “É necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Cristo”! Isto é, temos de mostrar na vida que levamos a fé que temos de ser peregrinos da eternidade.
Acreditamos num Deus de vivos… que nos chama à vida… a viver bem e com dignidade a vida terrena para merecermos um dia a vida eterna na ressurreição.
• “A Igreja é esse abraço de Deus no qual os homens aprendem a abraçar os seus irmãos”. São palavras do Papa, hoje, em São Tiago de Compostela. De facto, não há peregrino que ali chegue que não deseje abraçar a imagem do Apóstolo! Que esta definição tão bonita da Igreja ensine cada católico a abraçar cada "imagem de Deus" (a pessoa que nos está próxima)! Se passarmos a vida a abraçar os irmãos já estamos a viver a eternidade e a merecer a ressurreição.

23/10/10

XXXº domingo Comum - C

0. Ninguém é justo juiz em causa própria. E menos justos somos quando julgamos os outros!
A cegueira do orgulho impede-nos demasiadas vezes de ver e assumir os nossos limites e defeitos e, nessa mesma medida, impede-nos de ver e reconhecer o valor e as qualidades dos outros. Por isso, somos habitualmente demasiado condescendentes para connosco e excessivamente severos para com os outros.
Na Parábola do Evangelho que escutamos Jesus procura ensinar-nos que não se pode considerar justo o homem que despreza o seu semelhante mesmo que cumpra todas as leis legais!

1. O fariseu, foi ao templo rezar, mas não rezou verdadeiramente. As suas palavras e os sentimentos que elas exprimem são tudo menos oração.
Este homem evoca o nome de Deus mas pensa exclusivamente em si mesmo. Ele fala, mas não reza, limitando-se a fazer o seu próprio elogio. As suas palavras porque não têm verdade e são ditas sem amor não podem nunca ser oração! Só rezamos quando falamos toda a verdade e colocamos amor naquilo que dizemos!

Na sua oração o fariseu coloca-se a ele como centro e não coloca Deus no centro! O fariseu reconhece e evidencia os seu méritos e valores e não reconhece na sua vida a acção e o dom de Deus.

O fariseu foi ao templo, não para se encontrar com Deus, mas para mostrar aos homens que rezava; não para fazer silencio interior e escutar Deus, mas para falar todo o tempo de si próprio. Foi para cumprir uma lei, mas não para amar a Deus.
Considerando-se auto-suficiente e perfeito, nada pede a Deus! Incapaz de ver e assumir os seus erros e pecados, não manifesta arrependimento nem implora perdão. Cheio de si e feliz por ser assim, torna a sua vida completamente impermeável ao amor e à acção de Deus.
Foi ao templo cheio de orgulho e por isso não rezou. O orgulho impediu-o de se encontrar com Deus.
Continua ainda hoje o orgulho a cegar e a enganar tanta gente. Quem vive fechado no seu orgulho engana-se a si próprio, procura enganar os demais e tenta enganar a Deus… Como se fosse possível enganar a Deus! Como se fosse possivel convencer Deus da virtude e perfeição que efectivamente não temos! Deus não se deixa impressionar pelas aparências… ele olha e conhece o mais profundo de cada coração!

2. O publicano em contraste com o fariseu reza com discrição e humildade, não faz barulho nem dá nas vistas. As suas palavras e o gesto de bater no peito exprimem a sinceridade dos seus sentimentos. Mostra que se conhece bem e não pretende iludir-se, muito menos enganar a Deus. Reconhece e confessa que é pecador. Sabe que só Deus pode perdoar as suas faltas. Por isso, dirige-se a Ele, manifestando-lhe o seu arrependimento e implorando perdão: “Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador!”
3. O publicano vai ao templo para orar, porque sente necessidade de Deus, do seu amor e da sua compaixão. Deus acolhe a oração deste homem porque a faz com sinceridade, verdade e humildade. Na verdade o publicano pertence ao grupo dos pobres em espírito que Jesus proclama felizes e dos quais é o reino de Deus.

4. Se examinamos atentamente a nossa vida, os nossos pensamentos e sentimentos, as nossas palavras e acções, as nossas atitudes e relações humanas, verificamos que temos mais em comum com o fariseu do que com o publicano:

a. Com muita dificuldade conseguimos ver em nós algum defeito ou reconhecer algum pecado. Pelo contrário, com maior facilidade e ligeireza, apontamos os defeitos e acusamos os pecados dos outros.
b. Em certas ocasiões, também fazemos o nosso próprio elogio e se calhar até nos apresentamos como cristãos exemplares e perfeitos. É isso que as pessoas fazem quando dizem: “não mato, não roubo, não faço más acções… vou à missa ao domingo, faço as minhas orações, dou as minhas esmolas…”
c. E o que acontece em relação ao próximo? Amamos aqueles que não nos caiem bem? Não basta apenas não fazer mal é preciso fazer bem e muito…sempre!
d. No que se refere à oração também muitas vezes somos como o fariseu. Também nós falamos muito e escutamos pouco. Temos medo do silêncio interior, não deixando que Deus faça ouvir a sua voz e faça sentir a sua acção na nossa vida e no nosso coração.

Deus não se deixa ir em cantigas, não se deixa cativar por meras palavras… por mais belas que sejam. Deus não se deixa impressionar pelas aparências. Por mais hábil que alguém seja na arte de iludir, não consegue enganar a Deus!

Por isso, para quem quer e procura a salvação de Deus, só lhe resta o caminho da humildade e da sinceridade, da verdade e do amor, do arrependimento e do perdão. Quem vive deste modo, passará, muito provavelmente despercebido aos olhos dos homens, mas conseguirá a aprovação e a recompensa de Deus.

5. Este fim de semana celebramos o 84º dia missionário mundial sob o lema “ a construção da comunhão eclesial é a chave da missão

Cinco anos!

02/10/10

Para este XVII domingo...

Vimos à Igreja porque temos fé... Vimos à missa porque isto de pensar em Deus merece a nossa atenção. Vimos à Igreja porque queremos entender, alimentar e fortalecer mais a fé que já sentimos ter.


O que será mesmo ter fé? Como se há de expressar ou manifestar a fé que buscamos e temos?

Quantas vezes no caminho da vida não passamos por momentos de desânimo, impaciência e profunda descrença? Todos constantemente colocamos a interpelação será que vale a pena acreditar?

Procuremos entender aquilo que a Palavra de Deus nos quer este domingo dizer:

Na 1ª leitura o profeta Habacuc conta a sua experiência de fé. Diante da extrema violência e corrupção, que Vê no meio do povo, ele queixa-se com impaciência a Deus: "Até quando, Senhor?"

Deus exorta-o a não desanimar. Ele há-de intervir no momento oportuno: " o justo viverá pela sua fé."

Quantas vezes também nós não conseguimos entender porque permite Deus tantas coisas que parecem absurdas e são... o sofrimento injusto, a falta de compreensão e amor generalizados e tantas outras coisas.

Nessas horas, como Habacuc, reclamos ainda que apenas interiormente: porque? até quando?

A primeira leitura tenta ensinar-nos que a fé é o único caminho para compreender o mistério da história e superar todas as dificuldades e contradições. Ter fé é confiar em Deus mesmo quando ele parece ausente do mundo e da nossa história pessoal. Ter fé é esperar às vezes contra toda a esperança. Mesmo que Deus "aparentemente" não nos escute nem nos faça a vontade ou nos socorra directamente acreditamos que há de um dia salvar e libertar-nos totalmente.

Na 2ª leitura S. Paulo convida Timóteo, cansado e preocupado pelas adversidades da vida que "reavive o Dom de Deus, que recebeu..."

Num tempo de crise económica e social precisamos todos de reavivar este Dom de Deus que secretamente guardamos dentro do nosso coração. Precisamos de centrar a nossa atenção naquilo que somos realmente e não tanto naquilo que temos ou buscamos.

O texto da 2ª leitura convida a reavivar a chama da fé que nos ha de ajudar a enfrentar todas as dificuldades que no caminho da existência nos vão inquietando.

No Evangelho Jesus afirma que a fé remove os obstáculos. A fé, ainda que fraca ou pequena, poderá ajudar de forma determinante a superar os maiores obstáculos porque centra a nossa atenção naquilo que é essencial. Somos Filhos de Deus, chamados à eternidade...

Ter fé é dar conta que recebemos de Deus este dom gratuito. Não conquistamos a fé apenas pelo nosso esforço humano, pelo nosso mérito... é dom que Deus nos dá que exige uma resposta viva e actuante.

Fé e vida devem andar juntas sob risco de perdermos uma destas duas coisas...

A fé exige uma resposta viva e actuante. A fé sem obras é morta... A fé compromete-nos e exige que actuemos na comunidade humana e cristã na prática da caridade, da justiça e na vivencia fraterna e solidária.

Não é apenas uma adesão intelectual a algumas verdades aprendidas na catequese que foram transmitidas de geração em geração. A fé é uma adesão da vida ao projecto de Deus. É um encontro pessoal com Deus, em Jesus Cristo... é um aceitar realizar o plano de Deus em nós... é olhar o mundo, os acontecimentos e as pessoas com o olhar de Deus.

A fé pede ainda a entrega total e gratuita, sem esperar direitos ou privilégios... Somos servidores à disposição de Deus.

Temos também de ter atenção para não cair em duas tentações associadas à fé (neste mundo inseguro, perturbado e hostil). Não podemos desanimar... não entendemos tudo, somos pequenos e incapazes mas confiamos... de forma determinada confiamos em Deus!

Também temos de ter cuidado para não nos considerarmos "necessários" ou "merecedores". Quem já se julga muito seguro da sua fé... que já se considera muito santo de certo que está ainda muito longe de o ser!

Neste mundo descrente em que vivemos não desanimemos... vivamos na Esperança e para a Esperança que Jesus nos ensina... O justo vencerá pela sua fé! Mesmo que seja muito pequena... unida aos outros... a nossa fé há de fazer milagres e mudar para melhor o nosso meio.

Neste mes de Outubro, dedicado de forma especial à oração pelas missões pedimos a Deus que aumente a nossa fé e fortaleça a fé daqueles que deixaram tudo para seguir Jesus no serviço aos outros em terras distantes.

25/09/10

XXVI Comum C

O grande abismo chamado indiferença



Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade



As leituras deste XXVI domingo do tempo comum continuam a abordar o tema do domingo passado sobre os perigos que corremos quando tratamos os bens materiais como principiais preocupações da nossa vida… Este domingo a Igreja convida-nos a deixarmos a indiferença para nos abrirmos mais a Deus e aos irmãos.

Muitas pessoas, ainda que de forma inconsciente, apostam que a plenitude da vida e da felicidade se encontra nas riquezas... e por isso encontramos tanta gente insatisfeita sempre à procura de acumular mais alguns euros à conta bancária.

Os textos sagrados que proclamámos dizem-nos claramente que estamos errados! Os bens materiais podem comprar muitas coisas que nos fazem sentir alegres mas não conseguem comprar a verdadeira felicidade... o dinheiro pode pagar o médico e os medicamentos mas só por si o dinheiro não compra a saúde!

Vivemos num mundo assim... dividido! Um mundo que tem cada vez mais ricos (fechados sob si próprios) e cada vez mais pobres (Lázaros) necessitados...

O pior que pode acontecer é a nossa indiferença! A nossa indiferença pessoal e a nossa indiferença enquanto Igreja e por isso mesmo fermento na massa!

Vivemos no tempo da indiferença... Cada um por si! Cada um que se desenrasque! Partilhamos o mesmo planeta mas vivemos a “anos-luz” uns dos outros. Vivemos trancados nas nossas ideias, nas nossas casas, naquilo que temos... fechados no nosso egoísmo!

Partilhar é uma palavra apenas de retórica... Não partilhamos tempo, não partilhamos atenção e muito menos partilhamos verdadeiramente algo que faça parte dos nossos bens!

Somos indiferentes... e todas as realidades giram em torno desta nossa forma de estar. Constantemente criamos barreiras aos outros, erguemos muros e não construímos pontes que facilitem a nossa reunião com os outros. Construímos tantas vezes, ainda que sem darmos conta, o fosso do esquecimento do outro que surge sempre que nos tornamos incapazes de amar!

Tornamo-nos indiferentes para tudo... para amar, para nos comprometermos com os outros ou com a sociedade ou a Igreja... não queremos nada que possa roubar o nosso egoísmo de nos julgarmos demasiado inteligentes... Só não somos indiferentes para julgar!
O Evangelho alerta-nos para esse perigo de viver fechados em nós próprios julgando-nos tão ricos que não precisamos dos outros. Todos precisamos de todos e um dia a morte há-de tornar-nos verdadeiramente iguais como tornou o pobre Lázaro igual ao rico que vivia apenas para os prazeres que a sua fortuna permitia.

Vivemos nesta ilusão e de tantas formas nos procuram mostrar a vida luxuosa e cheia de caprichos que tantos artistas do desporto ou da televisão levam... Esquecemos que a obsessão do ter "cancela" o nosso ser mais profundo; afasta-nos uns dos outros e de Deus.

Levemos muito a sério isto: A indiferença é o sono da alma e uma doença do coração.

Só se vence o ódio ou a indiferença com o poder da invenção do amor em dar inesperadamente muito mais do que foi pedido.

Busquemos vencer a nossa indiferença e não tenhamos medo de nos "darmos" aos outros... partilhar aquilo que temos e somos! Quem não ama, fica cego e não vê mais que o seu próprio interesse... quem ama (como diz Bento XVI) tem um coração que vê; vê onde há necessidade e actua em consequência!

Procuremos com maior atenção estar atentos a tudo e a todos. Não como quem quer julgar ou avaliar mas como quem quer estar disponível para servir… para ajudar… para amar!