13/11/10

Para este XXXIII domingo Comum - C

As leituras propostas para este fim-de-semana utilizam uma linguagem apocalíptica… falam-nos do fim dos tempos. Apresentam-nos numa linguagem humana como será o momento final do universo… como será o dia em que este mundo passará de vez.
O Evangelho apresenta-nos uma imagem deste fim dos tempos como sendo um terramoto fortíssimo ou um furacão devastador.
São apenas imagens! O mais importante será descobrir a mensagem que estas imagens nos querem transmitir.
Não interessa muito querer saber quando acaba o mundo ou como acaba o mundo! Aos cristãos apenas importa dar conta e reconhecer que este mundo não é a última e única realidade que vamos conhecer. Fomos criados para a eternidade que não se confunde nem se esgota nesta realidade que conhecemos que apesar de bela é efémera e passageira.
Nesta realidade que vivemos e partilhamos acontecem-nos momentos em que “perdemos o controlo” das coisas e tudo vem por terra. Desmoronam-se os esquemas, as teorias e aquilo que parecia seguro e bem seguro desfaz-se como um castelo de cartas. E passamos mal. Procuramos alguém ou alguma coisa a que nos agarrarmos… quando morre alguém, quando nos despedimos de alguém… quando acontece alguma desgraça.
Que bom quando, em situações destas encontramos uma mão amiga que nos dá força ou nos diz uma palavra de paz, de confiança de orientação na desorientação.
É curioso que o anúncio da desintegração feito por Jesus acontece quando os discípulos estão a comentar a grandiosidade do templo. Jesus aproveita para dizer que por muito grande e consistente que pareça uma construção, tudo pode vir abaixo. Nada nos dá consistência à margem de Deus. Nada dura por parecer seguro. Deus, e só Ele é rocha e segurança para o crente.
Quem acredita e confia em Deus sofre com aquilo que acontece. Precisa como todos de ajuda nos momentos de calamidade… mas quem confia em Deus espera sempre encontrar esta esperança que só Deus pode dar. Se centrarmos em Deus a nossa atenção mesmo que o mundo desabe sentir-nos-emos abrigados à sombra do amor divinos.
Vivemos a esperar no Senhor… vivemos com o Senhor para vencermos todas as dificuldades e calamidades que possam surgir na nossa existência.
Tudo na vida se esvai
Morrem os familiares
E a dor abate-se sobre nós;
Quebram-se relações
E parece que o coração estala
Surge a doença
E desconjunta-se a vida
Temos um problema económico
E sentimos o medo e a insegurança;
Falha o trabalho ou chega a reforma
E a vida parece sem sentido;
Perdemos a coragem, aflige a depressão
E perdemos o gosto de viver;
Acontece-nos uma tragédia qualquer
E a vida se afunda…
A única coisa que é segura,
A rocha que não cede,
O tesouro mais valioso
És Tu, Senhor, nosso Deus.
Porque temos a segurança do Teu Amor,
Porque sabemos que acompanhas os nossos dias,
Porque nos esperas no fim do caminho
Porque chegaremos aos Teus braços
Para celebrar a festa da Vida
Para sentir o teu abraço definitivo
De plenitude, felicidade e harmonia
O abraço que sempre procurámos.
Então tudo o resto perderá a sua importância
E se tornará pequeno ao Teu lado, Deus da vida e de todas as coisas.


Neste domingo queria também convidar as pessoas a unirem as suas orações às minhas pelo aumento das vocações sacerdotais. Termina este domingo a semana de oração pelos seminários. Rezamos por todos aqueles que colocam a possibilidade ainda que remota de ser sacerdotes.

06/11/10

Carta de demissão - XXXII Comum C

Venho por este meio apresentar oficialmente o meu pedido de demissão da categoria dos adultos.
Resolvi que quero voltar a ter as mesmas ideias e possibilidades de uma criança de oito anos no máximo… quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim porque quero apenas ficar encantado com as pequenas maravilhas deste mundo que acontecem a todos os momentos, todos os dias.
Demito me de adulto porque quero uma vida simples e sem complicações desnecessárias. Cansei me de dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, noticias sempre deprimentes e alarmistas, contas a pagar, o disse que disse, doenças mas principalmente cansei me de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Chega de fazer contas para ver se o vencimento chega para todo o mês… quero acreditar que as pastilhas e as gomas são a melhor coisa do mundo e que as moedas de chocolate são melhores que as outras porque se podem comer e ficar com a cara toda lambuzada.
Também não quero dizer adeus às pessoas que me são queridas e que fazem parte da minha vida…. Por isso demito me de ser adulto! Porque quero ter a certeza que Deus está no céu e é Ele que orienta todas as coisas…
Quero deitar pedrinhas na água e dar a volta ao mundo no sonho de um barco de papel… demito-me de adulto porque quero continuar a sonhar.
Quero poder passar as tardes de verão, numa bela praia, construindo castelos na areia e, dividindo-os com os meus amigos.
Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro morango, a primeira maça ou, quando a cerejeira ficar totalmente florida.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de futebol ou uma corrida ao sprint.
Demito me de ser adulto porque quero voltar ao tempo em que eu aprendia o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda e rezava com os olhos fechados cheio de vontade de ser escutado.
Quero voltar ao tempo em que se era feliz, simplesmente porque se vivia na bendita ignorância de coisas que podiam preocupar ou aborrecer e que isso nada me incomodava porque agora mesmo que saiba muito nunca sei o mínimo suficiente.
Demito me de adulto porque quero poder acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, das palavras gentis e alegres… quero acreditar no poder da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos e da imaginação, dos castelos no ar e na areia.
Demito me de adulto porque ser “grande” é chato e eu quero ser feliz porque sei que ser feliz é mais que ter dinheiro ou ter muita influência…
Ser feliz é confiar em Deus… é saber que o Deus em quem acreditamos ”é um Deus de vivos e não um Deus de mortos… porque para Deus todos estão vivos!”
Para Deus todos estão vivos… criou-nos para a vida e não para a morte! Vivos na existência terrena ou vivos na eternidade na comunhão dos santos junto do mesmo Deus.
Acreditar em Deus é essencialmente uma questão de confiança e entrega… com simplicidade sabendo que Deus é sempre mais e sempre maior do que aquilo que conseguimos pensar ou teorizar.
Hoje as leituras pedem-nos esta confiança que é própria da simplicidade das crianças. Acreditar em Deus e naquilo que Ele revela em Jesus Cristo. E neste fim de semana as leituras falam-nos de forma especial da ressurreição…
Ressurreição não será portanto, reanimação ou simples ressuscitação ou reavivação e muito menos reencarnação como se alguém pudesse apropriar-se do lugar de alguém que já partiu.
Ressurreição Cristã é bem mais do que a simples imortalidade da alma porque a felicidade total que a ressurreição promete tem de incluir todas as dimensões da pessoa humana. Trata-se da plenitude de uma existência pessoal e inteiramente transfigurada pelo amor de Deus. Na ressurreição adquirimos a vida única e original de cada um, plenamente realizada e finalizada em Deus, quando Deus for tudo em todos!
A ressurreição não é uma teoria que se aceita. Implica um estilo de vida que se assume para a podermos alcançar. Como pedia o Papa Bento XVI na recente visita a Portugal: “É necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Cristo”! Isto é, temos de mostrar na vida que levamos a fé que temos de ser peregrinos da eternidade.
Acreditamos num Deus de vivos… que nos chama à vida… a viver bem e com dignidade a vida terrena para merecermos um dia a vida eterna na ressurreição.
• “A Igreja é esse abraço de Deus no qual os homens aprendem a abraçar os seus irmãos”. São palavras do Papa, hoje, em São Tiago de Compostela. De facto, não há peregrino que ali chegue que não deseje abraçar a imagem do Apóstolo! Que esta definição tão bonita da Igreja ensine cada católico a abraçar cada "imagem de Deus" (a pessoa que nos está próxima)! Se passarmos a vida a abraçar os irmãos já estamos a viver a eternidade e a merecer a ressurreição.