25/09/10

XXVI Comum C

O grande abismo chamado indiferença



Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade



As leituras deste XXVI domingo do tempo comum continuam a abordar o tema do domingo passado sobre os perigos que corremos quando tratamos os bens materiais como principiais preocupações da nossa vida… Este domingo a Igreja convida-nos a deixarmos a indiferença para nos abrirmos mais a Deus e aos irmãos.

Muitas pessoas, ainda que de forma inconsciente, apostam que a plenitude da vida e da felicidade se encontra nas riquezas... e por isso encontramos tanta gente insatisfeita sempre à procura de acumular mais alguns euros à conta bancária.

Os textos sagrados que proclamámos dizem-nos claramente que estamos errados! Os bens materiais podem comprar muitas coisas que nos fazem sentir alegres mas não conseguem comprar a verdadeira felicidade... o dinheiro pode pagar o médico e os medicamentos mas só por si o dinheiro não compra a saúde!

Vivemos num mundo assim... dividido! Um mundo que tem cada vez mais ricos (fechados sob si próprios) e cada vez mais pobres (Lázaros) necessitados...

O pior que pode acontecer é a nossa indiferença! A nossa indiferença pessoal e a nossa indiferença enquanto Igreja e por isso mesmo fermento na massa!

Vivemos no tempo da indiferença... Cada um por si! Cada um que se desenrasque! Partilhamos o mesmo planeta mas vivemos a “anos-luz” uns dos outros. Vivemos trancados nas nossas ideias, nas nossas casas, naquilo que temos... fechados no nosso egoísmo!

Partilhar é uma palavra apenas de retórica... Não partilhamos tempo, não partilhamos atenção e muito menos partilhamos verdadeiramente algo que faça parte dos nossos bens!

Somos indiferentes... e todas as realidades giram em torno desta nossa forma de estar. Constantemente criamos barreiras aos outros, erguemos muros e não construímos pontes que facilitem a nossa reunião com os outros. Construímos tantas vezes, ainda que sem darmos conta, o fosso do esquecimento do outro que surge sempre que nos tornamos incapazes de amar!

Tornamo-nos indiferentes para tudo... para amar, para nos comprometermos com os outros ou com a sociedade ou a Igreja... não queremos nada que possa roubar o nosso egoísmo de nos julgarmos demasiado inteligentes... Só não somos indiferentes para julgar!
O Evangelho alerta-nos para esse perigo de viver fechados em nós próprios julgando-nos tão ricos que não precisamos dos outros. Todos precisamos de todos e um dia a morte há-de tornar-nos verdadeiramente iguais como tornou o pobre Lázaro igual ao rico que vivia apenas para os prazeres que a sua fortuna permitia.

Vivemos nesta ilusão e de tantas formas nos procuram mostrar a vida luxuosa e cheia de caprichos que tantos artistas do desporto ou da televisão levam... Esquecemos que a obsessão do ter "cancela" o nosso ser mais profundo; afasta-nos uns dos outros e de Deus.

Levemos muito a sério isto: A indiferença é o sono da alma e uma doença do coração.

Só se vence o ódio ou a indiferença com o poder da invenção do amor em dar inesperadamente muito mais do que foi pedido.

Busquemos vencer a nossa indiferença e não tenhamos medo de nos "darmos" aos outros... partilhar aquilo que temos e somos! Quem não ama, fica cego e não vê mais que o seu próprio interesse... quem ama (como diz Bento XVI) tem um coração que vê; vê onde há necessidade e actua em consequência!

Procuremos com maior atenção estar atentos a tudo e a todos. Não como quem quer julgar ou avaliar mas como quem quer estar disponível para servir… para ajudar… para amar!

18/09/10

Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro! (XXV - Comum C)

Que “mal” terá afinal ter dinheiro para que Jesus o coloque como principal adversário e feroz concorrente em relação a Deus?
Todos precisamos de dinheiro é um meio prático e indispensável para as trocas comerciais e para ter acesso aos bens necessários.
Haverá algum vírus de pecado no próprio dinheiro para que Jesus nos coloque perante este dilema: ou Deus ou o dinheiro!
Claro que não! O dinheiro em si, nem é bom nem é mau… apenas necessário!
Jesus apenas quer alertar para o risco que está na relação que estabelecemos com os bens materiais. O risco está trocar ou colocar em causa a relação uns com os outros e com Deus por causa do dinheiro! Esta séria advertência de Jesus tem apenas que ver com o uso que fazemos do dinheiro e o modo como o buscamos e adquirimos.
As leituras deste XXV domingo do tempo comum sugerem-nos esta reflexão sobre o lugar que o dinheiro e os outros bens materiais devem assumir na nossa vida. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, os discípulos de Jesus devem evitar que a ganância ou o desejo imoderado de lucro manipulem as suas vidas e condicionem as suas opções; em contrapartida, são convidados a procurar os valores do “Reino”.
O dinheiro pode provir do trabalho honesto ou de negócios pouco claros. O dinheiro pode comprar o remédio que salva ou o veneno que mata… a economia pode fomentar sociedades mais justas e solidárias ou sociedades opressoras e desiguais… Os bens materiais podem ser partilhados com generosidade e alegria ou acumulados de forma egoísta. O perigo maior é quando a economia perde o coração… quando a sede insaciável de lucro máximo rouba a dignidade a outras pessoas.
Ainda há bem pouco tempo vimos pessoas lesadas por um banco que faliu… o dinheiro que parecia seguro e que dava segurança a estas pessoas desapareceu; como areia entre os dedos. O fundamento sólido de uma vida nunca pode ser um bem perecível e apetecível como o dinheiro. O fundamento sólido da nossa vida não poderá ser os bens mas o amor que temos uns pelos outros e partilhamos solidariamente uns com os outros.
Se aquilo que temos em bens materiais for a nossa única esperança e a única fonte de independência jamais seremos felizes porque a única segurança verdadeira consiste na reserva de Sabedoria, de experiência e competência. A nossa fonte de felicidade não pode estar naquilo que acumulamos e se torna rapidamente supérfluo. A nossa fonte de felicidade está em ter o essencial e somos capazes de colocar ao serviço…colocar a render para desta forma partilhar.
Pensemos bem… Será que aquilo que o dinheiro faz por nós não compensa o que nós fazemos por ele!?
Na segunda leitura S. Paulo faz-nos claramente o convite a não ficarmos fechados em nós próprios mas a preocupar-nos de forma empenhada com as dores e esperanças de todos os nossos irmãos. O cristão é aquele que se preocupa sempre mais em ser do que em ter… o cristão verdadeiro é aquele que consegue assumir de forma comprometida os valores duradouros do amor, da partilha e da fraternidade.

Que abraço forte ele deu aos jovens...



11/09/10

Um abraço... XXIV Comum - C

Quem não gosta de um bom abraço?… Um abraço forte e sentido? Dizem que um abraço é a menor distância entre dois amigos!
Os abraços são dados de muitas formas e com diferentes significados. Há abraços que dizem: "Fico muito contente com a tua amizade..." Existem abraços que expressam o orgulho que se sente por alguém especial!...
Também há abraços que dizem: "Não existe ninguém no mundo igual a ti..." Há abraços doces e ternos que são dados em momentos de tristeza...
Com um abraço também podemos dizer: "Sinto muito", quando alguém está a passar por um momento difícil...
Há abraços que damos, para dizer: "Que bom teres vindo", e outros que dizem: "Sentirei a tua falta quando estiveres longe de mim..."
Não faltam também abraços perfeitos para fazer as pazes... E os abraços cheios de carinho, que nascem do coração... Existem abraços para diferentes ocasiões; abraços rápidos e abraços demorados, um para cada razão um para cada momento... Porém, de todos os abraços, o mais carinhoso é aquele que diz: "Tu estás sempre no meu pensamento… porque és meu amigo e eu quero te sempre muito bem!”
Diz a sabedoria popular que só se realiza um grande amigo depois de um grande abraço!!

Só se sente um verdadeiro amigo depois de um grande abraço!
Tenho certeza que hoje nas leituras que escutamos Deus quer dizer-nos isto mesmo! Deus quer abraçar-nos! Quer ter-nos junto de si… amados!
As parábolas que escutamos no evangelho falam disto mesmo… Deus é este Pai sempre disposto a abraçar-nos! Deus quer sempre ser este pai rico de misericórdia que essencialmente nos quer amar e não tanto julgar ou condenar.
Quem acredita, quem tem fé precisa fazer um constante esforço para não ver apenas em Deus o Juiz implacável que julgará a humanidade mas de ver mais o Pai que nos quer acolher de braços abertos… o pai que nos estende a mão quando caímos, o Pai que nos aponta o caminho para onde seguir… o pai que nos segura na palma da mão quando tudo parece correr mal… o pai que nos abençoa com as suas mãos generosas.
Hoje convido-me a mim próprio e convido-vos a todos a sentirmos-nos abraçados por Deus… a aproximar-nos mais de Deus com confiança sabendo que ele não tira nada… dá tudo! Convido-me a tentar sentir o que um abraço é capaz de fazer. Quando bem apertado, ele ampara tristezas, sustenta lágrimas, combate incertezas, põe a nostalgia de lado. É até capaz de amenizar o medo.

Se for cheio de ternura, ele guarda segredos e jura cumplicidade. Um abraço amigo de verdade divide alegrias e se apraz em comemorações.

Um abraço bem sentido é como que uma bela oração cheia de força e energia.
Se quisermos assim ser abraçados por Deus teremos depois de olhar muitas vezes para o lado: há sempre alguém que quer ser abraçado, que precisa de um abraço e não tem coragem de dizer.

Partilhemos estes sentimentos… abracemo-nos a propósito e a despropósito… O pior que pode acontecer é ganhar de volta um sorriso de carinho ou, quem sabe, uma palavra sincera.
Um abraço nada custa a quem o dá e sabe tão bem a quem o recebe… se assim acontecer iremos descobrir que nunca estamos sozinhos e que a vida pode ser um eterno céu de primavera.
Que o amor, que nos move e comove, nos leve a fazer desta comunidade cristã um espaço livre, do qual cada pessoa se possa aproximar e se sinta bem acolhida e envolvida; um espaço de confronto e de conforto, onde a permuta dos dons, possa ocorrer! Cada um ofereça o seu próprio coração, como “estalagem”, fazendo do seu próximo mais distante o seu hóspede mais bem-vindo! «Entra, tens aqui um lugar»!

09/09/10

Como funciona o mercado de acções e porque apareceu a crise?

Certo dia, numa pequena e distante vila, apareceu um homem a anunciar que compraria burros a 5 euros cada.

Como havia muitos burros na região, todos os habitantes da pequena vila começaram a caça ao burro.
O homem acabou por comprar centenas e centenas de burros a 5 euros.
Quando os habitantes diminuíram o esforço na caça, o homem passou a oferecer 10 euros por cada burro.

Toda a gente foi novamente à caça, mas os burros começaram a escassear e a caça foi diminuindo.

É então que o homem aumenta a oferta para 25 euros por burro, mas a quantidade de burros ficou tão reduzida que já não compensava o esforço de ir à caça.

O homem anunciou então que compraria os burros a 50 euros, mas que teria que se ausentar por uns dias e deixaria o seu assistente responsável pela
compra dos burros.

É então que, na ausência do homem, o assistente faz esta proposta aos habitantes da pequena vila:
- Sabeis dos burros que o meu patrão vos comprou? E se eu vos vendesse esses burros a 35 euros cada?

E assim que o meu patrão voltar vós podeis vendê-los a ele pelos 50 euros que ele oferece, e ganhais uma pipa de massa!!!
Que acham?
Toda a gente concordou.
Reuniram todas as economias e compraram as centenas de burros ao assistente por 35 euros cada um.
Os dias passaram e eles nunca mais viram o homem nem o seu assistente - somente burros por todo o lado !

Entendes agora como funciona o mercado de acções e porque apareceu a crise?

06/09/10

Mensagem Paroquial

Padre para vós, peregrino convosco

“Se alguém vem ter comigo, sem Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo…”

Hoje as leituras procuram ensinar-nos que seguir Jesus não é um caminho de facilidade… seguir Jesus é um caminho de felicidade mas um caminho exigente, difícil porque exige perseverança no carregar da cruz diária.
Pelo Baptismo recebemos a graça e o desafio de ser discípulos fiéis de Jesus Cristo. Infelizmente nem sempre damos espaço para que a Graça de Deus guie os nossos passos… nem sempre nos comprometemos suficientemente com esta dignidade de sermos Filhos de Deus.
Vivemos numa cultura de exigência minimalista… e até na espiritualidade nos deixamos levar por esta cultura nada comprometedora.
Jesus não quer discípulos envergonhados… Jesus quer discípulos empenhados… comprometidos com a sua Igreja procurando ser fermento no meio da massa. (…)

Pedem-me agora que eu seja também este discípulo empenhado e comprometido na paroquialidade de cinco comunidades cristãs acumulando com os serviços que já prestava a esta Igreja Diocesana no Seminário do Fundão e na captação vocacional.
Teremos muito tempo para nos conhecermos, para nos estimarmos, para partilharmos aquilo que temos e somos e para em conjunto descobrir o que Deus espera de nós…
Não vale a pena apontar grandes metas… a meta deve ser o caminho percorrido com simplicidade e verdade. O único caminho é a Palavra de Deus que há de iluminar a nossa existência, nos há de unir e motivar para cada vez mais profundamente conhecermos e amarmos a Deus que nos criou.

Para este desafio que me pedem tenho apenas um objectivo – conhecer e dar a conhecer, amar e fazer amar mais a Jesus Cristo que revela o Pai;
Tenho apenas um único projecto… amar (do jeito que Jesus ensina!)
Há apenas um meio para alcançar os objectivos e concretizar os projectos…. Trabalhar!
O trabalho, a dedicação e a entrega generosa (tendo como modelo o único bom pastor) são o segredo para resistir e responder à altura aos desafios que constantemente nos são colocados.

Para tudo o resto muita esperança! Estamos nas mãos de Deus e acredito que as mãos de Deus irão abençoar o trabalho, apontar e encaminhar pela verdade e se for necessário ao colo nos há-de carregar.


Como dizia a primeira leitura: -“ Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios, se Vós não lhe dais a sabedoria e não lhe enviais o vosso espírito santo?”
Esta é a nossa maior Esperança. Deus não nos abandona entregues às nossas capacidades e forças humanas; envia-nos o Espírito Santo como garante da verdade e como guia secreto dos nossos passos. Há de ser o Espírito Santo a guiar os nossos passos de família paroquial!
Acredito naquilo que saint exupery diz que só respiramos quando estamos ligados aos nossos irmãos por um objectivo comum que se situa fora de nós; e a experiência mostra que amar não é olharmos uns para o outros, mas olharmos todos na mesma direcção… mais alto, mais fundo, mais largo…mais longe! Será esta a minha missão convosco olhar mais alto, mais fundo, mais largo, mais longe.

Milagres sozinho ninguém faz… com Deus e com a ajuda de todos haveremos de conseguir que Deus esteja mais presente nesta nossa paróquia de….
Neste inicio de ano pastoral… neste inicio de aventura espiritual peço a Deus três coisas: constância, realismo e audácia. A audácia faz precisamente o justo equilíbrio entre a presunção de quem se julga capaz de tudo e a timidez de quem não é capaz de fazer nada!

Assim estamos todos convocados pela Palavra, (não pode haver jogadores suplementes nem quem fique na bancada apenas a avaliar às vezes de forma injusta) e em constante e fraternal atenção uns aos outros esta paróquia há de ser lugar onde Cristo reina porque os seus discípulos carregam a sua cruz do dia a dia com coragem e confiança.
Peço apenas a caridade da vossa oração para esta missão que me confiam e também a vossa oração pelo aumento das vocações sacerdotais e pela minha fidelidade ao tesouro que sou chamado a administrar… Eu rezarei por vós… é essencialmente para isso que precisais de um Sacerdote. Rezai por mim eu passarei o meu tempo a rezar por vós!
Porque quero ser sempre Padre para vós, peregrino convosco!