06/11/10

Carta de demissão - XXXII Comum C

Venho por este meio apresentar oficialmente o meu pedido de demissão da categoria dos adultos.
Resolvi que quero voltar a ter as mesmas ideias e possibilidades de uma criança de oito anos no máximo… quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim porque quero apenas ficar encantado com as pequenas maravilhas deste mundo que acontecem a todos os momentos, todos os dias.
Demito me de adulto porque quero uma vida simples e sem complicações desnecessárias. Cansei me de dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, noticias sempre deprimentes e alarmistas, contas a pagar, o disse que disse, doenças mas principalmente cansei me de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Chega de fazer contas para ver se o vencimento chega para todo o mês… quero acreditar que as pastilhas e as gomas são a melhor coisa do mundo e que as moedas de chocolate são melhores que as outras porque se podem comer e ficar com a cara toda lambuzada.
Também não quero dizer adeus às pessoas que me são queridas e que fazem parte da minha vida…. Por isso demito me de ser adulto! Porque quero ter a certeza que Deus está no céu e é Ele que orienta todas as coisas…
Quero deitar pedrinhas na água e dar a volta ao mundo no sonho de um barco de papel… demito-me de adulto porque quero continuar a sonhar.
Quero poder passar as tardes de verão, numa bela praia, construindo castelos na areia e, dividindo-os com os meus amigos.
Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro morango, a primeira maça ou, quando a cerejeira ficar totalmente florida.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de futebol ou uma corrida ao sprint.
Demito me de ser adulto porque quero voltar ao tempo em que eu aprendia o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda e rezava com os olhos fechados cheio de vontade de ser escutado.
Quero voltar ao tempo em que se era feliz, simplesmente porque se vivia na bendita ignorância de coisas que podiam preocupar ou aborrecer e que isso nada me incomodava porque agora mesmo que saiba muito nunca sei o mínimo suficiente.
Demito me de adulto porque quero poder acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, das palavras gentis e alegres… quero acreditar no poder da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos e da imaginação, dos castelos no ar e na areia.
Demito me de adulto porque ser “grande” é chato e eu quero ser feliz porque sei que ser feliz é mais que ter dinheiro ou ter muita influência…
Ser feliz é confiar em Deus… é saber que o Deus em quem acreditamos ”é um Deus de vivos e não um Deus de mortos… porque para Deus todos estão vivos!”
Para Deus todos estão vivos… criou-nos para a vida e não para a morte! Vivos na existência terrena ou vivos na eternidade na comunhão dos santos junto do mesmo Deus.
Acreditar em Deus é essencialmente uma questão de confiança e entrega… com simplicidade sabendo que Deus é sempre mais e sempre maior do que aquilo que conseguimos pensar ou teorizar.
Hoje as leituras pedem-nos esta confiança que é própria da simplicidade das crianças. Acreditar em Deus e naquilo que Ele revela em Jesus Cristo. E neste fim de semana as leituras falam-nos de forma especial da ressurreição…
Ressurreição não será portanto, reanimação ou simples ressuscitação ou reavivação e muito menos reencarnação como se alguém pudesse apropriar-se do lugar de alguém que já partiu.
Ressurreição Cristã é bem mais do que a simples imortalidade da alma porque a felicidade total que a ressurreição promete tem de incluir todas as dimensões da pessoa humana. Trata-se da plenitude de uma existência pessoal e inteiramente transfigurada pelo amor de Deus. Na ressurreição adquirimos a vida única e original de cada um, plenamente realizada e finalizada em Deus, quando Deus for tudo em todos!
A ressurreição não é uma teoria que se aceita. Implica um estilo de vida que se assume para a podermos alcançar. Como pedia o Papa Bento XVI na recente visita a Portugal: “É necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Cristo”! Isto é, temos de mostrar na vida que levamos a fé que temos de ser peregrinos da eternidade.
Acreditamos num Deus de vivos… que nos chama à vida… a viver bem e com dignidade a vida terrena para merecermos um dia a vida eterna na ressurreição.
• “A Igreja é esse abraço de Deus no qual os homens aprendem a abraçar os seus irmãos”. São palavras do Papa, hoje, em São Tiago de Compostela. De facto, não há peregrino que ali chegue que não deseje abraçar a imagem do Apóstolo! Que esta definição tão bonita da Igreja ensine cada católico a abraçar cada "imagem de Deus" (a pessoa que nos está próxima)! Se passarmos a vida a abraçar os irmãos já estamos a viver a eternidade e a merecer a ressurreição.

1 comentário:

Anónimo disse...

É bom passar por aqui!

Bom Domingo