26/10/05

Entrevista ao Jornal "A Guarda"



“A Guarda”: - Quem é o Pe. António Carlos?

Pe. António Carlos: Sou um jovem que há 25 anos nasceu na paróquia de Vale de Azares, Celorico da Beira, no seio de uma família cristã.
Com dez anos fui frequentar o Seminário Menor do Fundão porque na minha terra as pessoas confundiram timidez com “santidade”, julgo eu! Ainda bem que confundiram…digo eu agora.
Estudei no Seminário do Fundão de 1990 até 1995 tendo depois, numa opção mais consciente, ingressado no Seminário da Guarda. Terminado o ensino secundário ingressei no Instituto Superior de Teologia em Viseu, onde me licenciei no ano de 2003/2004. No último ano estive a estagiar, como educador/professor, no Seminário do Fundão.

A.G.: Foi complicado chegar ao sacerdócio?

Pe. A.C.: Nada de sólido se constrói na facilidade! Seria inconsciente se optasse por ser sacerdote de ânimo leve! Este passo que dou exige de mim um esforço pessoal de abnegação e entrega à oração, à formação teológica constante e ao serviço dos outros por amor a Jesus Cristo e ao Evangelho.

A.G.: Que espera da Igreja da Diocese da Guarda?

Pe. A.C.: O sacerdócio exige de mim uma entrega e dedicação total ao Reino. Estarei ao serviço da Igreja Diocesana de forma radical. Como acólito enviaram-me para o Seminário do Fundão, sempre procurei exercer da melhor forma… agora, como padre, mais tenho obrigação de me entregar a esta missão que o bispo diocesano me confiou. Espero que a nossa Igreja Diocesana consiga, cada vez mais, dar testemunho de comunhão e solidariedade dentro do presbitério, entre os leigos e entre uns e outros.

A.G.: Como vai ser a sua missão pastoral?

Pe. A.C.: Até Setembro do próximo ano sei que fico no Seminário do Fundão! Depois o futuro a Deus pertence e o Sr. Bispo lá saberá…Se eu gostaria de ficar? Para já é esta a realidade que conheço… Não conheço profundamente a realidade paroquial. Enquanto estiver tudo farei para gostar de estar… se um dia deixar de estar, tudo farei para gostar da nova missão.
O mais importante é que eu consiga ser alguém sempre próximo…alguém amigo à imagem de Cristo Bom Pastor…sempre solícito! O mais importante será ser sempre um bom sacerdote; um pastor dedicado a todos e a cada um dos que lhe estão confiados.Um bom sacerdote é aquele que reza por si; reza com e pelos outros! Um bom sacerdote é aquele que serve porque ama… confia porque acredita em Jesus e sabe que sozinho é apenas um detalhe da criação… com Jesus consegue fazer a diferença! Um bom sacerdote sabe que não faz mais que semear; é aquele que administra aquilo que Deus dá!

A.G.: Em sua opinião qual a razão da crise de vocações?

Pe. A.C.: Para mim, na minha humilde opinião, julgo que a crise de vocações se deve fundamentalmente a duas problemáticas:
Em primeiro lugar o problema das famílias! Cada vez mais encontramos famílias disfuncionais e crianças que crescem sem as referências religiosas e morais da fé em Jesus.
Em segundo lugar esta cultura e esta sociedade que privilegia o barulho em vez do silêncio… o imediato em detrimento do autêntico. Deus continua a chamar e a falta de vocações, por certo, não é “culpa” d’Ele. Falta uma cultura de silêncio e oração.
Quem me dera ter uma receita para resolver estas problemáticas.

In: www.jornalaguarda.com

20/10/05

Ser PADRE


Apontar o caminho a quem procura
Chegar a casa ao fim de cada dia;
Pregar a Deus a toda a criatura;
Abrir na terra fontes de alegria.

Erguer ao Céu, nas mãos, a Hóstia Pura
E o Cálix da Divina Eucaristia;
Subir com Cristo a Rua da Amargura
Junto da Cruz fazer-Lhe companhia.

Ser Padre é isto! É ser o Bom Pastor,
De montanha em montanha, dor em dor:
Dar rosas de ouro às almas entre abrolhos.

Quem no Padre não vê Jesus que passa,
Passa longe dos Anjos e da Graça,
Como cego que a Deus refeche os olhos.

Moreira das Neves

19/10/05

Entrevista do Diácono Tó Carlos ao Jornal “Manhã Radiosa” – Jornal do Seminário Menor do Fundão.


Manhã Radiosa: Como descobriu a sua vocação?
Diácono Tó Carlos: Partindo dessa questão alguém poderia realizar um filme… uma longa-metragem!
Costumo dizer que vou descobrindo diariamente a minha vocação. A minha vocação fundamental, acredito, é ser sacerdote… o modo como realizo a minha vocação vou descobrindo no meu dia a dia.
Ontem, hoje e amanha vou procurando construir o meu caminho de realização e felicidade… este caminho é o meu caminho vocacional. A vocação será a minha resposta a diária a Deus em ordem a uma fidelidade à sua vontade para mim... se descobrir qual a vontade de Deus para mim, se a colocar em prática realizar-me-ei e serei feliz.

M.R.: Quando e como veio parar ao Seminário de Fundão?
D.T.C.: Terminei o curso de Teologia no ano lectivo 2003-2004 e, no ano lectivo transacto vim trabalhar para o Seminário Menor. Foi terminar o Seminário e começar de novo! Em funções diferente é claro!...
As circunstâncias foram especiais porque vim numa altura em que o D. António já estava doente e por isso ausente da Diocese e ainda não tínhamos bispo coadjutor.

M.R.: Quando entrou para o Seminário tinha ideia de chegar a ser sacerdote?
D.T.C.: Vim para o Seminário com 10 anos! Vim porque quis. Tenho no entanto a sensação que na altura confundiram a minha timidez natural com “santidade”. Ainda bem que confundiram… digo eu agora!

M.R.: Durante o seu tempo de seminarista o que achava da missa diária, da equipa educadora e do seminário?
D.T.C.: Não sou diferente de vós e de certo que, na altura, pensaria aquilo que vós agora pensais! Com certeza também julgava a missa uma “seca” e também terei dito mal dos educadores e do Seminário!
Só o tempo nos ensina a valorizar a vida no seminário e a formação integral que a equipa educadora procura sempre semear.

M.R.: A escolha do Sacerdócio é difícil?
D.T.C.: Nada de sólido se constrói na facilidade. Seria inconsciente se opta-se por ser sacerdote de animo leve! Este passo que vou dar exige de mim um esforço pessoal de abnegação e entrega à oração, à minha auto formação teológica e ao serviço dos outros por amor a Jesus Cristo e ao Evangelho.

M.R.: Como está a reagir a sua família?
D.T.C.: À minha família devo tudo! Sempre me apoiaram! Sempre quiseram e tudo fizeram para que eu fosse muito feliz. A educação que deles recebi, o amor que sempre me transmitiram é a minha base e será sempre o meu mais seguro “porto de abrigo”. No final desta etapa é evidente que estão felizes porque eu estou feliz!

M.R.: O que acha que irá sentir quando estiver a ser ordenado?
D.T.C.: Estarei como sempre estou…nervosinho e atrapalhado por ser o centro das atenções! É o momento de uma vida…um momento de consagração a Deus no serviço ao próximo.

M.R.: O que pensa que vai mudar na sua vida?
D.T.C.: O que vai mudar? Pouco espero! O sacerdócio exige de mim uma entrega e dedicação total ao Reino. É isso que, já agora, como Diácono, tenho tentado sempre fazer. Estarei ao serviço da Igreja Diocesana de forma radical. Como acólito enviaram-me para o Seminário do Fundão sempre procurei exercer da melhor forma…agora como padre mais obrigação tenho de me entregar a esta missão que o bispo diocesano me confiou.

M.R.: Ao tornar-se sacerdote gostaria de continuar no seminário ou ir para uma paróquia?
D.T.C.: Até Setembro do próximo ano sei que fico no Seminário! Depois o futuro a Deus pertence e o Sr. Bispo lá saberá…
Se eu gostaria de ficar? Para já é esta a realidade que conheço… Não conheço profundamente a realidade paroquial. Enquanto estiver tudo farei para gostar de estar… se um dia deixar de estar tudo farei para gostar da nova missão.

M.R. O que é um padre?
D.T.C.: É alguém próximo…alguém amigo à imagem de Cristo bom pastor…sempre solicito!

M.R. De certeza que ao longo destes anos, houve momentos marcantes na sua vida. Partilhe connosco alguns desses momentos especiais.
D.T.C. Foram tantos o momentos especiais…foram tantos os momentos difíceis…. foram tantos os momentos marcantes nesta caminhada. Conto-vos um que acho importante! Sabeis porque vou ser padre? Eu vou ser padre porque sempre houve muita gente a rezar por mim. Sei que na minha terra natal todos os dias algumas dezenas de pessoas rezavam por mim…ao longo dos 14 anos de seminário houve sempre gente que rezou para que eu chegasse um dia a ser padre. Quando eu descobri isto… quando me dei conta desta força que me vinha da oração destas pessoas tive muita mais coragem para continuar a procurar qual a vontade de Deus para mim.

M.R. Por fim, deixe-nos um conselho…
D.T.C.: É para isso que cá estou! É isso que faço todos os dias aqui! Mais um… Aproveitai ao máximo aquilo que o Seminário coloca ao vosso dispor… crescei autenticamente como Homens e cristãos conscientes!
Amai aquele que muito nos ama! Jesus Cristo!

Oração pessoal


Os meus propósitos

Meu Senhor e meu Deus, nesta cultura violenta quero testemunhar-Te levando ao mundo palavras de união!

Neste tempo onde todos querem ser servidos, que eu manifeste no mundo a alegria que é servir.

Quando tantos fecham a mão para bater, para agredir, que eu abra o coração para acolher.

Num mundo que adora a máquina e a técnica que eu saiba humanizar a pessoa.

Neste mundo que perdeu o sentido do valor da vida que eu ajude a dignificar a existência humana como dom do Teu amor!

Meu Pai do céu… em Ti confio! Em Ti deposito meus sonhos, projectos e anseios! Serei feliz porque jamais abandonas aqueles que amas!

Neste mundo onde todos olham apenas a terra, que eu saiba sempre olhar e apontar o céu!

Nas tuas mãos, òh Pai, entrego confiadamente a minha vida! Faz de mim teu fiel instrumento… para sempre!

11/10/05

Bispo Português fala no Sinodo dos Bispos em Roma


Intervenção de D. Albino Cleto na 12ª Congregação Geral

Penso que deveria resultar deste Sínodo uma palavra de estima e de estímulo comum para com os nossos sacerdotes e os seus colaboradores, que fazem tantos sacrifícios para garantir ao povo de Deus a celebração do Domingo.
Neste espírito de pastores vigilantes e de irmãos que ajudam, nós devemos, portanto, estar atentos aos desvios que se acentuam, pelo menos no meu país.
Apresento três tendências, boas em si mesmas, mas nas quais a Eucaristia tende a desviar-se do que ela é - celebração litúrgica e santa do mistério sacramental – para tornar-se um simples serviço religioso.
Em primeiro lugar: a preocupação principal dos padres em garantir a Missa, que os fiéis exigem, negligenciando a qualidade da celebração. Numa sociedade secularizada, o alimento não basta, é preciso preparar a mesa. Mais importante do que colocar a hóstia na mão ou na língua do fiel é fazê-lo com a dignidade que transmite a fé.
Em segundo lugar: no desejo de ser aceites pelas pessoas que nos ouvem, os nossos padres consideram a Eucaristia como uma comunhão na mesa da igualdade. Comprometamo-nos numa catequese na qual a comunhão seja, antes de mais, comunhão com o Cordeiro imolado e oferecido.
Terceiro: multiplicamos as celebrações dominicais que, na ausência de um padre, são presididas por diáconos ou leigos. É uma bênção, mas a facilidade com que se procede à substituição da Missa por estas celebrações preocupa-me. Seria necessário, pelo menos, que os ritos sejam mais nitidamente diferenciados.
Fonte Eclesia, www.ecclesia.pt

08/10/05

Recado aos Padres desalojados e aos que dizem que lhos roubaram...


“Queria sem intenção de ferir, dizer umas coisas simples aos padres em causa. Olhem, amigos, nós, os que estamos cá fora precisamosde vós, como servidores do Povo de Deus, como testemunhas de Cristo, Servo, pobre e humilde, como companheiros de jornada, como padres desinstalados, que não se servem a si mesmos e não como prepotentes que começaram agora a vida e já se sentem humilhados”.Sou um simples cidadão normal, como todos os cidadãos mortais e sou membro do Povo de Deus, como os outros membros do Povo de Deus. É como tal que escrevo. Nem o sei fazer de outra maneira. Um dia de uma semana passada, ao passar pela cidade, dei de caras com uma notícia num jornal cá do sitio:“Bispo vaiado na Vermiosa”, escrevia-se lá. E relatava as atitudes de um povo que se sentia roubado. Fiquei atónico. Já tinha lido no Público o relato da vígilia silenciosa de Gonçalo e mais duas paróquias, frente ao Paço Episcopal. Também me tinha soado algo sobre Alfaiates. Mas não queria acreditar que o Bispo tivesse tido de passar por tal enxovalho. Queria sem intenção de ferir, dizer umas coisas simples aos padres em causa. Olhem, amigos, nós, os que estamos cá fora precisamosde vós, como servidores do Povo de Deus, como testemunhas de Cristo, Servo, pobre e humilde, como companheiros de jornada, como padres desinstalados, que não se servem a si mesmos e não como prepotentes que começaram agora a vida e já se sentem humilhados. Pode doer, sair de uma paróquia ou mais, que vos estimava, mas será bom que vos debruceis sobre uma ou mais passagens do Evangelho. A primeira, a entrada de Jesus em Jerusalém. Puseram as capas no chão, para que o Mestre não ferisse os seus pés nas pedras, levantaram ramos de palma e de oliveira, cantaram: “Hossana ao filho de David, bendito o que vem em nome do Senhor”. Foi muito bonito, foi sim senhor. Mas, os mesmissimos que fizeram isto, na sexta feira seguinte gritaram: “crucifica-o. Que o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos. Foi muito feio, mesmo muito feio. Os apoios das multidões, são relativos. Hoje, cantam-vos louvores e continuarão a cantar até vos apanharem numa falha e apanham; porque vós não sois infalíveis. Ou sois? E no dia seguinte, quando isso acontece, ou acontecer, cuidai-vos. Irão à vossa porta gritar: põe-te daqui para fora que não és de cá. Eu já vi e ouvi e não foi bonito. Sabei que os povos têm a memória curta, muito curta e agem à medida de quem os conduz. E quem os conduz não será propriamente o mais interessado ou interessados, no bem da paróquia. Os padres mais velhos, que estão calados e talvez não devessem estar, já todos passaram por isso. Acreditar nas louvaminhas dos povos? Cuidado, senhores padres, não é muito aconselhável. A outra passagem do Evangelho ainda é mais simples. No fim do regresso de uma das missões a que o Senhor enviou os seus apóstolos, disse-lhes: “e quando tiverdes feito todas estas coisas, dizei: somos servos inúteis, só fizemos o que deviamos fazer”. E, se fizestes coisas boas nas paróquias onde estivestes, porque não haveis de fazê-las também naquelas para onde fostes nomeados e que estão ávidas para vos acolher? Ajudai o pobre do bispo que ainda agora aqui chegou, pensou que aqui morava gente honrada e já está a levar pancada. Boa poesia, não?Que direi aos povos? O Bispo tirou-vos um padre, mas deixou-vos outro. Podia não ter deixado nenhum e seria bem pior. O Bispo dá o que tem e o que não tem, muitas vezes. Neste momento, penso ainda pode dar. Mas, por este andar, não sei se dará. Além do mais, é uma imagem muito má a que a diocese dá ao resto do país cristão. Nos congressos e jornadas que fazeis, falais da renovaçao da diocese. Será esta a renovação, que se pretende? Que apoio se está a dar ao pobre do Bispo que está a ter um batismo de fogo?E disto aproveitam-se as televisões, parcas de escrúpulos, que não querem saber de nada, quer dos padres em causa, quer dos povos. Afinal, o que conta? O sensacionalismo, ou o serviço ao Povo de Deus."
Pereira Ramos - In Jornal "A Guarda" de 6 de Outubro de 2005