10/09/05

A minha homilia para o XXIV Domingo do Tempo Comum - A


As leituras deste XXIV domingo do tempo comum, mais uma vez nos propõe como tema de meditação a bondade, o amor e o perdão de Deus para quem o quiser aceitar. Sentimentos estes que nós deveremos imitar. Cultivando-os estaremos em mais intima comunhão com Deus nosso Pai e nosso criador.
As leituras apresentam-nos hoje um Deus que ama incondicionalmente a sua obra que criou! Um Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida. Este Deus pede apenas que, imitando-O, também nós amemos os irmãos que, dia a dia, caminham lado a lado connosco!
A primeira leitura (retirada do livro de Ben-Sirá) procura deixar claro que a ira e o rancor são sempre sentimentos maus; que jamais podem ser caminho para uma realização plena e feliz do homem! A ira e o rancor jamais permitirão ao coração humano ser autenticamente feliz e livre!
O livro de Ben-Sirá apresenta um pouco o que significa ser possuidor da verdadeira sabedoria. Esta verdadeira sabedoria não se adquire apenas nos livros e no estudo apurado! A verdadeira sabedoria é oferecida aos homens piedosos por Deus.
Possui a verdadeira sabedoria aquele que não se deixa dominar pelo rancor, pela ira ou por sentimentos fáceis de vingança!
Possui a verdadeira sabedoria aquele que é capaz de perdoar e de se compadecer com o seu semelhante! Esse é sábio…esse é feliz!
O texto sagrado é fundamentalmente um apelo a invertemos a lógica do “olho por olho, dente por dente” de forma a que as nossas relações com os irmãos sejam marcadas por sentimentos de perdão e misericórdia. Só assim, livre de coração, em paz com os irmãos o homem pode ser autenticamente feliz. Só assim o homem pode dizer-se Filho de Deus porque emita o modo de proceder do Pai.
Este modo de proceder é importante porque a nossa vida, a nossa existência terrena, está marcada pela brevidade e pela finitude e, querendo ter uma existência terrena feliz, não podemos estraga-la com sentimentos que magoam os outros e nos magoam a nos mesmos!
Muitos dos nossos irmãos pensam que só nos afirmamos, só nos realizamos e só triunfamos quando somos fortes ou quando respondemos com força e agressividade aos outros. O autor do texto da primeira leitura ensina que “a sabedoria” e êxito e a felicidade do homem não passam por cultivar sentimentos negativos em relação aos outros. O que nos trás paz, o que nos faz sentir em harmonia connosco, com Deus e com os outros não são os gestos violentos mas sim os gestos de perdão de bondade e misericórdia!
O evangelho retoma este tema presente na leitura de Ben - Sirá. O tema do perdão! E Jesus mostra que perante este tema tem ideias radicais! Jesus quer que se perdoe sempre!
Para os Judeus perdoar devia ser um esforço permanente, no entanto, pensavam que o perdão só o deviam àqueles que faziam parte do seu povo. Jesus ao dizer que se deve perdoar até setenta vezes sete quer testemunhar, face aos seus contemporâneos, que o perdão é para ser dado mesmo aos inimigos!
O texto sagrado aponta para esta exigência difícil de perdoar sempre de forma radical e ilimitada! O mandamento do perdão, como Jesus o ensina, não permite meias tintas, desculpas ou rancores de coração.
No nosso tempo, na nossa cultura parece que o perdão é próprio dos fracos, dos vencidos, dos que desistem de impor a sua personalidade e a sua visão do mundo! Jesus diz que a verdade é outra…perdoar é para gente forte interiormente! Perdoar é para os que sabem o que é verdadeiramente importante é para os que estão dispostos a renunciar ao seu orgulho e auto-suficiência!
Este perdão que Jesus exige aos seus discípulos não significa ceder diante daqueles que nos magoam e nos ofendem! Este perdão que Jesus pede para praticar significa encolher os ombros e seguir adiante perante as injustiças! Este perdão que Jesus pede não significa “deixar correr mundos e fundos”! Este perdão que Jesus pede não é sinónimo de pactuar com injustiças e opressões (sociais, politicas ou culturais!). Não é silêncio cobarde / conformismo ou indiferença!!!
O perdão que Jesus pede não significa isolar-se no silêncio ou demitir-se das responsabilidades na construção de um mundo melhor! O perdão que Jesus pede significa estar disposto a ir ao encontro, a estender a mão, a recomeçar o diálogo… a dar sempre outra oportunidade.
Se assim procedermos podemos dizer, como S. Paulo, na segunda leitura!
Devemos perdoar sempre e amar como Deus já nos amou e continua a amar! Pois, nenhum de nós vive para si mesmo…nenhum de nós morre para si mesmo! Se vivemos… vivemos para o Senhor…se morremos morremos para o Senhor! Quer morramos quer vivamos pertencemos ao Senhor! Esta certeza deve encher de alegria o nosso coração… esta certeza deverá responsabilizar-nos na edificação de um mundo melhor! Isto não pode ser uma utopia ou sonho…não podem ser simples palavras bonitas! Devemos ser a fieis a Jesus perdoando sempre…amando sempre o próximo desmesuradamente… Devemos eliminar todos os ódios e rancores que podem afectar o nosso coração! Isto não é para os outros, é para mim… se assim proceder não mudarei todo o mundo mas de certo mudarei para melhor o “meu mundo”!

1 comentário:

maria disse...

É por estas e outras que para mim é tão importante participar da Eucaristia. Humanamente sou muito pouco dada a "perdões". Preciso que O Amor de onde derivam todos os amores, me renove, me fortifique, transforme o meu coração, tantas vezes de pedra, em coração que sabe e pode amar.